segunda-feira, outubro 31, 2005
HAJA ALEGRIA!!
domingo, outubro 30, 2005
Desiderata
Às vezes descobrimos pequenas pérolas no meio da amálgama de frustrações que é a vida de todos os dias. Reencontrei hoje um livrinho lindíssimo esquecido no fundo de uma minha gaveta chamado "Desiderata - Sabedoria de Vida", um livrinho de pequenos conselhos simples acompanhados de imagens belas e tocantes. Gosto particularmente do título: Desiderata - coisas a desejar. Já nem me lembrava dele, mas mal vi um cantinho laranja espreitar do meio da tralha lembrei-me logo desta imagem fabulosa e da frase que (a) acompanha: "Regozija-te com as tuas conquistas e os teus projectos". Fiquei encantanda com esta pequena pérola.
Sinto, no meu turbilhão de emoções diárias, que é cada vez mais difícil cada um regozijar-se com as suas conquistas e com os seus projectos. É difícil porque vivemos num país de medíocres, um país em que qualquer pessoa empenhada que sobressaia ligeiramente do resto da multidão é encarada como um anormalzinho, como um freak do qual apenas nos devemos rir e atirar à cara o quão espertos somos, o quão desenrascados somos, nós, os chicos espertos que passamos por cima de toda a gente e contornamos todas as coisas pelas pequenas brechas da lei.
E é com uma ponta de tristeza que sei que, no meio deste nivelamento por baixo em que vivemos, é difícil regozijarmo-nos com as nossas conquistas, com os nossos pequenos momentos de brilho, aqueles momentos em que sobressaimos, porque a seguir ao orgulho bom vem o escândalo, vêm as críticas, vêm invejas, vêm tretas niveladoras, desculpas demeritórias... e vai-se tornando cansativo aturar tanta parvoíce.
Por isso é mais fácil ser-se banal, passar-se despercebido, não ter grandes conquistas, não ter grandes projectos. Ser-se, enfim, apenas mais um no meio da multidão. (Será assim que se perdem génios?)
Mas é claro que, por mais que se tente, para quem não acredita nesta treta é impossível não ter projectos e não se regozijar com as suas pequenas conquistas. E ainda bem que ainda há gente que sobressai, que ignora críticas e invejas e escândalos e cobiças e se mantém convicta no seu caminho, modestamente orgulhosa do seu percurso e do seu projecto, serenamente em paz, os pés crescendo ao ritmo lento e descoordenado das conquistas que a vida lhe deu...
Penso ser esta uma pequena parte da sabedoria de vida.
sábado, outubro 29, 2005
Poço de sabedoria
A criança é um poço de sabedoria. A criança, por inocente, ensina quem deixou de o ser há já algum tempo a eterna beleza do seu olhar puro, aquele que capta a realidade literalmente. Deixemos de lado os segundos sentidos. Embora a criança os capte bem. E cada vez mais, neste mundo em que vivemos. Mas capta-os de uma forma inocente, adulterada só por não saber bem o que significam. Sabe que têm um sentido perverso, talvez até obsceno – oh, a criança capta essas brincadeirinhas, sim – mas não entende a perversão, não entende a obscenidade, apenas a marotice. Os olhos da criança são, talvez, o espelho no qual o adulto se revê. É lindo ver as crianças crescer porque, no fundo, revemo-nos a nós mesmos, no âmago da sua alminha em crescimento. E sentimos o ressoar da nossa imagem, da nossa altura, da nossa aparência de velhos – aos olhos de uma criança, um jovem parece sempre um velho – no fundo do seu sentimento e a criança ama-nos por olharmos para ela (ou por olharmos por ela?), apesar dos anos e anos de distância. E em nós a criança vê a Perfeição, o Absoluto. Vê a imagem da Verdade e da Sabedoria. E a beleza disto tudo é que este olhar magnifico sobre o adulto obriga-o docemente a rever-se por dentro, a repensar as suas escolhas, os seus traumas, os seus erros e a achar neles toda uma beleza de sabedoria. E sim, começa a acreditar na sua própria sabedoria e cresce-lhe a alma grande por se saber amado por alguém tão frágil e desprotegido. E fecha os olhos, sorrindo, deixando-se levar por tão doce sonho de perfeição, ainda que a consciência o alerte de que é apenas um sonho, e sente a brisa fresca na cara, o vento trazido pela criança e deixa-se ficar numa lassidão perfeita… Que felicidade! Não acreditam? A criança é, já o disse, um poço de sabedoria. Paradoxo
E é sentir a solidão do existir E é sentir que a vida muda sem saber E é ter medo de dar tudo e cair E é querer ver o mundo todo sem doer! Se eu fosse ave cumprir-me-ia num só voo Se fosse flor perfumaria o jardim Mas sendo gente não me livro deste enjoo De querer ter tudo e de só me ter a mim! Eu só queria ter um voo deslumbrante, Ou um aroma muito fora do vulgar Mas o que é mesmo, mesmo mais decepcionante É não ser ave, não ser flor e ser só gente Levar toda a vida a sentir e a pensar E assim acabar, vazia e indiferente.
quinta-feira, outubro 27, 2005
Não quero sentir o amor morrer
Que se lixem as pessoas! Que se lixe todo o mundo! Que se lixem todas as coisas, dignas e indignas, pois nenhuma delas servirá alguma vez para alguma coisa. Tudo é inútil como um prato vazio: já serviu, já alimentou, já fez sentir, já deu vida - depois disto, o nada.
São assim as relações humanas. São, como não podia deixar de ser, nesta cultura do usa e deita fora, efémeras. São intensas e depois inúteis. São maravilhosas e depois vazias. Ah, e são quase todas por necessidade. Necessidade e conveniência - é isso que junta as pessoas.
Estou cansada! Farta! Farta desta complexidade estúpida, desta utopia de perfeição, deste sonho de felicidade! Estou farta das pessoas, farta de ser atraiçoada! Farta de ser enganada, de ser criticada, cuspida, apontada... numa palavra: estou farta de ser usada.
Que se usem os outros, que eu não quero saber. Dos meus erros sei e posso dar conta, dos dos outros não há muito que eu possa fazer. Porque aí cairia na incoerência de lhes apontar o dedo, de o espetar nas suas feridas mais profundas e de escarafunchar desalmadamente. E eu não quero ser incoerente quando posso escoher não o ser.
Que se amem os outros, que eu não quero amar e ser amada. Que se amem até à exaustão, até se fartarem - e que, depois, cuspam nas caras uns dos outros os tiques e defeitos mútuos que antes comeram e adoraram e imitaram. Eu isso não quero: não quero sentir o amor morrer.
