domingo, outubro 30, 2005

Desiderata

Às vezes descobrimos pequenas pérolas no meio da amálgama de frustrações que é a vida de todos os dias. Reencontrei hoje um livrinho lindíssimo esquecido no fundo de uma minha gaveta chamado "Desiderata - Sabedoria de Vida", um livrinho de pequenos conselhos simples acompanhados de imagens belas e tocantes. Gosto particularmente do título: Desiderata - coisas a desejar. Já nem me lembrava dele, mas mal vi um cantinho laranja espreitar do meio da tralha lembrei-me logo desta imagem fabulosa e da frase que (a) acompanha: "Regozija-te com as tuas conquistas e os teus projectos". Fiquei encantanda com esta pequena pérola.

Sinto, no meu turbilhão de emoções diárias, que é cada vez mais difícil cada um regozijar-se com as suas conquistas e com os seus projectos. É difícil porque vivemos num país de medíocres, um país em que qualquer pessoa empenhada que sobressaia ligeiramente do resto da multidão é encarada como um anormalzinho, como um freak do qual apenas nos devemos rir e atirar à cara o quão espertos somos, o quão desenrascados somos, nós, os chicos espertos que passamos por cima de toda a gente e contornamos todas as coisas pelas pequenas brechas da lei.

E é com uma ponta de tristeza que sei que, no meio deste nivelamento por baixo em que vivemos, é difícil regozijarmo-nos com as nossas conquistas, com os nossos pequenos momentos de brilho, aqueles momentos em que sobressaimos, porque a seguir ao orgulho bom vem o escândalo, vêm as críticas, vêm invejas, vêm tretas niveladoras, desculpas demeritórias... e vai-se tornando cansativo aturar tanta parvoíce.

Por isso é mais fácil ser-se banal, passar-se despercebido, não ter grandes conquistas, não ter grandes projectos. Ser-se, enfim, apenas mais um no meio da multidão. (Será assim que se perdem génios?)

Mas é claro que, por mais que se tente, para quem não acredita nesta treta é impossível não ter projectos e não se regozijar com as suas pequenas conquistas. E ainda bem que ainda há gente que sobressai, que ignora críticas e invejas e escândalos e cobiças e se mantém convicta no seu caminho, modestamente orgulhosa do seu percurso e do seu projecto, serenamente em paz, os pés crescendo ao ritmo lento e descoordenado das conquistas que a vida lhe deu...

Penso ser esta uma pequena parte da sabedoria de vida.

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