Sinto, no meu turbilhão de emoções diárias, que é cada vez mais difícil cada um regozijar-se com as suas conquistas e com os seus projectos. É difícil porque vivemos num país de medíocres, um país em que qualquer pessoa empenhada que sobressaia ligeiramente do resto da multidão é encarada como um anormalzinho, como um freak do qual apenas nos devemos rir e atirar à cara o quão espertos somos, o quão desenrascados somos, nós, os chicos espertos que passamos por cima de toda a gente e contornamos todas as coisas pelas pequenas brechas da lei.
E é com uma ponta de tristeza que sei que, no meio deste nivelamento por baixo em que vivemos, é difícil regozijarmo-nos com as nossas conquistas, com os nossos pequenos momentos de brilho, aqueles momentos em que sobressaimos, porque a seguir ao orgulho bom vem o escândalo, vêm as críticas, vêm invejas, vêm tretas niveladoras, desculpas demeritórias... e vai-se tornando cansativo aturar tanta parvoíce.
Por isso é mais fácil ser-se banal, passar-se despercebido, não ter grandes conquistas, não ter grandes projectos. Ser-se, enfim, apenas mais um no meio da multidão. (Será assim que se perdem génios?)
Mas é claro que, por mais que se tente, para quem não acredita nesta treta é impossível não ter projectos e não se regozijar com as suas pequenas conquistas. E ainda bem que ainda há gente que sobressai, que ignora críticas e invejas e escândalos e cobiças e se mantém convicta no seu caminho, modestamente orgulhosa do seu percurso e do seu projecto, serenamente em paz, os pés crescendo ao ritmo lento e descoordenado das conquistas que a vida lhe deu...
Penso ser esta uma pequena parte da sabedoria de vida.
Sem comentários:
Enviar um comentário