A criança é um poço de sabedoria. A criança, por inocente, ensina quem deixou de o ser há já algum tempo a eterna beleza do seu olhar puro, aquele que capta a realidade literalmente. Deixemos de lado os segundos sentidos. Embora a criança os capte bem. E cada vez mais, neste mundo em que vivemos. Mas capta-os de uma forma inocente, adulterada só por não saber bem o que significam. Sabe que têm um sentido perverso, talvez até obsceno – oh, a criança capta essas brincadeirinhas, sim – mas não entende a perversão, não entende a obscenidade, apenas a marotice. Os olhos da criança são, talvez, o espelho no qual o adulto se revê. É lindo ver as crianças crescer porque, no fundo, revemo-nos a nós mesmos, no âmago da sua alminha em crescimento. E sentimos o ressoar da nossa imagem, da nossa altura, da nossa aparência de velhos – aos olhos de uma criança, um jovem parece sempre um velho – no fundo do seu sentimento e a criança ama-nos por olharmos para ela (ou por olharmos por ela?), apesar dos anos e anos de distância. E em nós a criança vê a Perfeição, o Absoluto. Vê a imagem da Verdade e da Sabedoria. E a beleza disto tudo é que este olhar magnifico sobre o adulto obriga-o docemente a rever-se por dentro, a repensar as suas escolhas, os seus traumas, os seus erros e a achar neles toda uma beleza de sabedoria. E sim, começa a acreditar na sua própria sabedoria e cresce-lhe a alma grande por se saber amado por alguém tão frágil e desprotegido. E fecha os olhos, sorrindo, deixando-se levar por tão doce sonho de perfeição, ainda que a consciência o alerte de que é apenas um sonho, e sente a brisa fresca na cara, o vento trazido pela criança e deixa-se ficar numa lassidão perfeita… Que felicidade! Não acreditam? A criança é, já o disse, um poço de sabedoria.
sábado, outubro 29, 2005
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