quinta-feira, outubro 27, 2005

Não quero sentir o amor morrer

Que se lixem as pessoas! Que se lixe todo o mundo! Que se lixem todas as coisas, dignas e indignas, pois nenhuma delas servirá alguma vez para alguma coisa. Tudo é inútil como um prato vazio: já serviu, já alimentou, já fez sentir, já deu vida - depois disto, o nada.

São assim as relações humanas. São, como não podia deixar de ser, nesta cultura do usa e deita fora, efémeras. São intensas e depois inúteis. São maravilhosas e depois vazias. Ah, e são quase todas por necessidade. Necessidade e conveniência - é isso que junta as pessoas.

Estou cansada! Farta! Farta desta complexidade estúpida, desta utopia de perfeição, deste sonho de felicidade! Estou farta das pessoas, farta de ser atraiçoada! Farta de ser enganada, de ser criticada, cuspida, apontada... numa palavra: estou farta de ser usada.

Que se usem os outros, que eu não quero saber. Dos meus erros sei e posso dar conta, dos dos outros não há muito que eu possa fazer. Porque aí cairia na incoerência de lhes apontar o dedo, de o espetar nas suas feridas mais profundas e de escarafunchar desalmadamente. E eu não quero ser incoerente quando posso escoher não o ser.

Que se amem os outros, que eu não quero amar e ser amada. Que se amem até à exaustão, até se fartarem - e que, depois, cuspam nas caras uns dos outros os tiques e defeitos mútuos que antes comeram e adoraram e imitaram. Eu isso não quero: não quero sentir o amor morrer.

Sem comentários: