quarta-feira, fevereiro 21, 2007
Adeus, meu telemóvel
segunda-feira, fevereiro 19, 2007
Absurdos
domingo, fevereiro 11, 2007
Há momentos em que as orações encaixam tão bem...
sábado, fevereiro 10, 2007
A rotina
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
Voto Não.
No dia 11 de Fevereiro, os portugueses vão ser chamados a pronunciar-se, em referendo, a favor ou contra a “despenalização da interrupção voluntária da gravidez se realizada, por opção da mulher, nas dez primeiras semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado.” Eu respondo um convicto e mastigado ao longo de muitos anos Não.
Por detrás desta questão que é levada a referendo como uma "simples pergunta" sobre a despenalização de uma "vergonha nacional", escondem-se questões muito complexas que nos levam a questionar o modelo de sociedade em que vivemos, o modo como vemos a justiça e se ela funciona ou não, a abrirmos os olhos para dramas humanos que, estando tão perto, arrumamos na prateleira do real mas longínquo, a olharmos para o nosso círculo de valores e tentarmos pô-los em prática... questionando-os.
Começo por apresentar dois pontos em que eu penso que os dois lados têm em comum e que acabam por dificultar a escolha dos mais indecisos. Primeiro ponto: o aborto é um mal. É a exterminação de uma vida. Pode não ser pessoa, mas é uma vida humana. Não é um bicho, uma planta, ou (como infelizmente já ouvi alguém dizer) uma víscera. A prova está na imagem que postei no início do texto. É assim um feto de 10 semanas. Apesar de correr o risco de me chamarem piegas, ou de dizerem que sou estúpida ao recorrer a isto, penso que é importante saber-se que é a vida de um ser humano ASSIM que se elimina (e não interrompe). Segundo ponto: ninguém quer ver mulheres presas pela prática do aborto. Saiba-se que, com esta lei, nenhuma mulher foi ainda presa em Portugal por esta razão e que das sete que foram julgadas apenas uma foi penalizada e não se sabe por que razões (pode ter feito um aborto tardio, ou mais do que um,... não se sabe). Estamos todos dispostos a mudar a lei.
O sim e o não divergem quando, depois de termos sangrado discursos defendendo argumentos laterais, se chega à colisão de dois direitos. O direito à escolha da mulher e o direito à vida do feto. Parece-me que, enquanto o sim se centra apenas num dos direitos ignorando por completo o outro, o não faz uma ponderação muito mais razoável, sensata e humana dos dois valores. O não (ao contrário do que dizes, Rita) não quer deixar a lei como está. Eu, que defendo o não, falarei na primeira pessoa, sabendo (porque sou activista pelo não e tive a sorte de poder conversar imenso sobre este assunto com muita gente de ambas as partes) que falo pela maioria dos Nãos. Acho que o aborto clandestino é um problema real na sociedade. É assustador pensar na quantidade de abortos clandestinos que se fazem em Portugal. Penso, porém, que é ainda mais doloroso e assustador pensar no número de abortos que se vão passar a fazer se o sim ganhar. Tanto legais como os ilegais que não desaparecerão. Em Espanha o número triplicou! E pergunto a todos aqueles que dizem comigo que o aborto é um mal, como vão votar numa lei que vai triplicar esse mal? Ou será que o aborto só é mau quando é clandestino? Ou será que o aborto só é sinónimo de morte quando é feito em más condições e na obscuridade? O direito à vida impõem-se imperativamente à liberdade de escolha da mãe. Sem direito à vida, não há direito à escolha. E pergunto mais: defendem o direito à escolha mas só o da mulher! E o do pai? E o do filho? Qual é a justiça por detrás de uma escolha unilateralmente feita, quando há pelo menos mais dois intervenientes que têm uma palavra a dizer e que serão impedidos de o fazer porque a única que se poderá pronunciar é a mulher?
Despenalizar ou não despenalizar. Nesta pergunta que vem a referendo NÃO É a despenalização que está em causa. Primeiro, a pena não desaparece da lei. Se a mãe abortar nem que seja um dia depois do prazo absurdo estabelecido pela lei, será penalizada na mesma. Segundo, está em causa a liberalização. O aborto poderá ser feito por opção da mulher e sem ser necessário mais nenhuma condição. (Não me digam que o Governo já disse que haverá, CLARO, (clarissimo, sim!) cláusulas de restrição ou dissuasão. Porque aí digo-vos que outros políticos também já disseram que se o não ganhar, haverá novas propostas para serem analisadas na Assembleia, mais justas e que estabeleçam um equilíbrio mais justo entre os dois valores em colisão.)Ou seja, o aborto será livre, logo, liberalizado e não despenalizado. Por aqui se percebe que esta não é uma questão meramente jurídica e que como não podemos ver a questão que vai a referendo como uma questão de conflitos de direitos abstractos. Não esqueçamos que atrás de direitos estão sempre princípios, fundamentados em valores. Valores esses que estão assentes na ética. Esta questão tem tudo a ver com a ética.
Votar Não não é querer deixar tudo como está. Toda a gente já acordou para esta problema. Todo o país está desperto e, finalmente, percebe o que se passa tão perto mas tão longe. Esse é um argumento vazio. O não diz que não quer que o aborto seja livre até às dez semanas. O não diz que quer que a mulher tenha oportunidades para ter filhos e que o aborto não seja uma delas. O não concorda com a mudança de lei mas que esta seja uma mudança positiva e optimista! Que seja uma lei justa. A lei que temos agora não funciona e não é justa para as mulheres que continuam a abortar. Mas a lei que, se o sim ganhar, for aprovada não será justa nem para o filho, que morrerá, nem para a mãe, que vai pensar que assim resolve os seus problemas mas que em breve se aperceberá que vai ficar submersa em remorsos e sentimentosde culpa. O país sabe desta chaga social. Os políticos já a conhecem bem. Se o não ganhar a lei será mudada na mesma mas sem injustiças de parte a parte.
Entristece-me pensar que tanta gente veja no aborto a única saída para o desespero de uma mulher que engravidou sem planear nada. As Associações Pró-Vida ajudaram 100.000 mulheres, desde o último referendo. Estes são dados verídicos. Imaginem a quantas mulheres e bebés nnós poderiamos chegar com mais ajudas. Ajudas tanto do Estado como de todas as pessoas que ficaram alertadas para esta questão e que queiram participar. E acho que esta ideia não é idílica. Se tantas associações se formaram independentemente depois do último referendo, quantas mais não se poderiam formar agora! Entristece-me aperceber-me que a sociedade é cada vez mais uma sociedade negativista e que nós, portugueses, que nos aguentámos firmes na decisão de não permitir a pena de morte e o mostrámos orgulhosamente ao mundo, apresentamos o argumento "mas na Europa já quase todos fazem" como muito lógico. Sem sequer percebermos, aliás, que na Europa se começa a caminhar,agora, no caminho inverso e que, arrependidos, há países onde se paga aos casais uma pensão para promover a natalidade. Entristece-me que se uma mulher se vir pressionada a abortar pelo marido, pelo pai dela, pelas más condições económicas em que vive, a resposta mais fácil que ela encontrará será o aborto, oferecido pela sociedade. Fácil, não no sentido de ser tomada em ânimo leve mas fácil como mais rápida e ilusoriamente menos onerosa. Entristece-me pensar que esta lei acaba por ser reflexo de um desespero da sociedade. Que se agarra a este referendo como a única hipótese que tem para não manchar mais a "dignidade das mulheres" (Ainda alguém me tem de explicar como é que o aborto livre confere dignidade às mulheres e, principalmente, saúde.) sem sequer pensar que há mais opções. Reais. Concretizáveis. Bastas querermos.
Basta, a meu ver, votarmos Não. Por amor.
quinta-feira, fevereiro 08, 2007
Não.
P. António Vaz Pinto - Resposta a Frei Bento Domingues
(...)Limitado pelo tempo e pelo espaço, irei cingir-me a três tópicos referidos na sua crónica, que considero os mais importantes:
1. Consciência e norma ética. Pode ser útil referir Aristóteles, S. Tomás de Aquino ou J. Ratzinger, o actual Papa, para relembrar que a suprema instância de decisão ética para o cristão, acima da própria suprema autoridade eclesiástica, o Concílio ou o Papa, é a consciência individual. É doutrina mais que tradicional. Mas é bom ter presente que este princípio não vale apenas para a questão do aborto; se alguém se afirmar, cristão e simultaneamente, em consciência, defensor da escravatura, da pedofilia ou do racismo, que lhe dirá Frei Bento? Que lhe pode opor? Fica entregue a si próprio e a Deus... Importante, para todos, é informar e formar a consciência para que cada um possa decidir e agir em conformidade com a recta razão que é a norma ética. E é aqui que nos devemos situar: o que é conforme à razão, às exigências de natureza humana individual e colectiva?
2. A problemática jurídica e penal e os limites da tolerância. Numa sociedade laica e plural como é a nossa - e estou muito contente que assim seja -, os cristãos ou a Igreja não devem nem podem impor a sua "visão" aos outros membros da sociedade. Mas, tal como os membros de outras confissões, agnósticos e ateus, têm todo o direito e até o dever de propor valores e princípios, na busca de um denominador comum que permita a convivência, nunca totalmente pacífica, em sociedade...É precisamente disso que se trata: o ordenamento jurídico de uma dada sociedade, incluindo o ordenamento penal, tem pressupostos e valores donde brotam as diversas normas. Por exemplo, em Portugal, é proibido o roubo, o homicídio, o racismo, a difamação, etc. Quer isto dizer que a sociedade portuguesa, através dos seus legítimos representantes, legisladores, assume como valores e pressupostos a propriedade, a vida humana, a igualdade racial, o bom nome, etc., consagrando-os como "bens jurídicos", a preservar e defender.Essa é que é a questão que se coloca a todos nós, no próximo referendo: independentemente da nossa religião (ou ausência dela) em que modelo de sociedade queremos viver? Que valor consideramos maior? A vida humana, raiz de toda a dignidade e de todos os direitos, "inviolável", como diz a nossa própria Constituição (Artº 24, n. 1), ou consideramos que outros valores, vg. saúde, segurança, não humilhação, valem mais do que a própria vida? Dir-se-á: mas ninguém é obrigado a abortar; proibir o aborto é impor aos outros as nossas convicções: proibir a escravatura, o racismo e a pedofilia também é impor as nossas convicções àqueles que pensam doutra maneira... ou será que essas proibições devem desaparecer do Código Penal? Em cada momento, cada sociedade faz escolhas de carácter ético e, embora possa e deva, nas nossas sociedades pluralistas, deixar largas margens de liberdade e não se intrometer na vida e moral privada de cada um, tem de assegurar as normas jurídicas mínimas de convivência social. Quando a liberdade de um colide com a vida e a liberdade de outro, a sociedade pode e deve fazer escolhas e estabelecer limites. E estas escolhas são feitas sabendo-se de antemão que haverá quem não concorde, que haverá sempre maioria e minoria....O pluralismo não pode ser ilimitado e a própria tolerância levada ao extremo autodestrói-se...
3. "Por opção da mulher"Ao contrário da actual lei - com a qual não concordo, evidentemente (mas que tem o mérito de manter o princípio do respeito pela vida humana e da ilicitude do aborto, apenas abrindo excepções por razões ponderosas) - o que é proposto na pergunta agora colocada a referendo, embora se refira apenas a "despenalização do aborto", corresponde a uma realidade totalmente diferente: desde que praticado em estabelecimento de saúde autorizado e até às dez semanas, a prática do aborto, de facto e de direito, fica totalmente liberalizada e até financiada, dependendo apenas da vontade da mulher. Até às dez semanas, é o total arbítrio...Será isto justo, saudável, estará de acordo com os fundamentos do modelo de sociedade, defensora dos direitos humanos e da dignidade da vida humana, que demorou tantos séculos a construir? Se é certo que a mulher, na sociedade e na Igreja, foi e continua a ser injustamente discriminada, não parece sensato nem justo que se introduza agora uma discriminação positiva, em favor das mulheres, no campo jurídico e penal... O ser humano - homem e mulher - é capaz do pior e do melhor - sem distinção de sexo... Apesar de saber bem o rol de sofrimento da mulher que muitas vezes acompanha a prática do aborto, as pressões, sociais, familiares e afectivas a que está sujeita (muitas vezes do próprio homem que contribuiu para a concepção do feto), entregar à mulher, em total arbítrio, a decisão de vida ou de morte de um ser humano não é justo nem democrático. E diria exactamente o mesmo, é evidente, se o homem fosse o decisor...O combate ao aborto (que todos reconhecem como mal, incluindo os defensores do sim) não passa pela sua liberalização, mas pelo combate às suas raízes... Pais, escola, família, comunicação social, sociedade em geral, a Igreja e o Estado... todos temos culpas e todos temos muito a fazer... O apoio afectivo, psicológico, social e financeiro às mulheres - efectivo - é indispensável e urgente. Não sei qual será o resultado do referendo próximo. Mas sei que a luta pela vida continua e que o que tem futuro na história da humanidade não é o que destrói, mas o que fomenta a promoção integral da vida humana: o homem todo e todos os homens, sem excepção. Isso é que é ser universal, isto é, "católico"... Caro Frei Bento, espero encontrá-lo na próxima curva da nossa história, do mesmo lado, o lado da defesa dos direitos humanos, sem sim, nem mas...
in Público, 7.2.2007
Condicional
quarta-feira, fevereiro 07, 2007
O noivado do sepulcro
terça-feira, fevereiro 06, 2007
Os livros (ode à época de exames)
Ó eterna maravilha do mundo! Ó gloriosa eternidade dos Homens! De século em século, teu saber Consagrado permanece escrito, Ganhando pó em bibliotecas Espalhadas por toda a Terra! Ó magnânime voz de todos nós! Ó espantosa magia das palavras! Céus, que fabuloso monumento! Pensadores, cientistas, físicos Escritores, artistas, teólogos, E todos eles mortos agora! Ó majestoso receptáculo de sabedoria, Ó esplendoroso ninho da Humanidade… Como é tanto e tão pouco o que encerras, Como é tudo e contudo é nada… Páginas e páginas de pessoas, De vida tipografada, e para quê? Ó pecaminoso saber, pecaminoso!!! Ó teoria, teoria – poesia e só teoria… Cremava os livros todos desta Terra Na magnífica pira da inutilidade Se ao sabor das cinzas da História Atingisse finalmente a Liberdade…
quinta-feira, fevereiro 01, 2007
Talvez
Não
O que está em causa neste referendo não é simples. é um assunto verdadeiramente complexo e complicado. Tentando chegar ao cerne da questão, penso que tudo se resume, objectivamente, ao confronto de dois direitos essenciais ao ser humano. De um lado temos o direito à vida. Do outro o direito à liberdade. Ouço muitos a dizer que o NÃO apenas pesa um dos lados (o direito à vida) esquecendo por completo o outro. Não é verdade. Aliás, enquanto que posso afirmar com plena confiança que nunca ouvi nenhum apoiante do sim falar do outro lado da balança, do direito à vida, posso também e felizmente afirmar com alegria que o não não esquece o lado que quase cega os apoiantes do sim - O lado da mulher. Esta ponderação entre os dois direitos é difícil e desenha com uma linha muito ténue o limite daquilo que subjectivamente será mais justo. Penso que é um erro centrarmo-nos na mulher, nos direitos que ela tem, no que sofre ao fazer um aborto clandestino, e esquecermo-nos que o núcleo do seu problema é um embrião, uma vida que se desenvolve dentro dela. Devemos invocar o direito à escolha da mulher sobre a morte desta vida? Que Direito é o nosso? Isso sim, seria uma sociedade injusta. O direito serve para protejer os mais fracos, os que têm menos voz. Há mil e um mecanismos de defesa do que não se podem defender por eles mesmos. É claro que algumas mulheres que abortam desenvolvem problemas pós-abortivos. Mas não nos esqueçamos que isso não acontece só nos abortos ilegais! Também nos legais ela corre riscos! pode ficar esteril! pode desenvolver infecçoes e reacçoes complicadissimas. Entra maioritariamente em depressao! Muitas ponderam o suicidio! Além disso, e o outro lado? a vida (sim, VIDA) que se esta a desenvolver dentro dela? POr estar dentro da sua barriga a mulher tem o direito de optar para que ela viva ou não? Tipo apêndice?começa a dar problemas, bora remove-lo? E dizem-me que a lei é mais justa? Onde está a justiça no meio de tudo isto? Penso que o lado da balança que mais pesa é o da vida. Porque, aliás, é um direito que ultrapassa até o direito à liberdade. Sem VIDA não há LIBERDADE. Nem de escolha nem de coisa nenhuma. Acho que esta lei não vai melhorar nada. O número de mortes vai aumentar. As complicaçoes pós-abortivas da mulher não vão desaparecer. O aborto clandestino não vai desaparecer. A educaçao sexual vai deixar de fazer qualquer sentido. O aborto vai ser liberalizado até às dez semanas, prazo que também não tem qualquer sentido. A mulher vai poder abortar sem dar QUALQUER razao. Apenas porque sim. Esta lei pode funcionar apenas silenciosamente e não ser, de facto, verdadeiramente eficaz. Mas em que lei estaremos nó a votar? Que JUSTIÇA traz esta nova lei?