Conheço pessoas muito velhas. Pessoas da minha idade, com dois ou três anitos a mais, e que são velhas, demasiado velhas. Não é que tenham a testa enrugada de preocupações e andem curvadas e tenham artroses e doenças que tais, não é que se queixem de tudo e de nada, não é que falem na morte, não é que se queixem da pensão e dos impostos, não é que se queixem do ladrão do Estado (se bem que disso toda a gente se queixa…), não é que tenham filhos e netos e lhes façam uma grande festa e lhes chorem a lagrimazinha de saudade da vida que chega ao fim. Não.
São jovens simplesmente velhos, velhos porque se crêem velhos, porque se sentem velhos, porque se acham velhos. Velhos porque gastam a juventude toda a pensar no seu envelhecimento precoce… e se esquecem do vigor que há nos seus corpos e da energia que há nas suas mentes e da capacidade criadora e produtiva que possuem.
Em muitos de nós o Passado persegue o Presente e, muitas vezes, nos baralha o Futuro. E em todos nós há essa nostalgia melancolicamente dramática, essa saudade que nos arrasta para um tempo perfeito em que fomos verdadeiramente felizes. Naquela altura, quando éramos jovens e ingénuos e puros e inocentemente felizes, naquela altura sabíamos viver. Agora estamos velhos, já vivemos muita coisa dolorosa, já sabemos de mais da vida. Somos experientes. Somos velhos. Temos entre vinte e vinte e cinco anos. Vivemos o fantasma da velhice na terceira década de vida. E depois voltaremos a vivê-la na septuagésima… de verdade. Aquela velhice real de tremer o corpo, de tomar dez medicamentos por dia, de viver por viver, de esperar simplesmente que a morte chegue para ir para junto de quem já partiu, a velhice do corpo que não obedece ao espírito, a velhice da solidão… mas essa agora está longe. E a outra é a que interessa.
A velhice dos vintes não me convence. Eu, que sou nova, acredito na juventude verdadeiramente jovem. E também que há serenidades que só se encontram quando aceitamos aquilo que, com o Passado que fomos, o Presente nos faz – e que isso é uma forma de maturidade que não implica abdicar da juventude. Ser velho não é igual a ser adulto nem é sinónimo exclusivo de experiência. Saber integrar na nossa pessoa as nossas experiências, aprender com elas e tornar-nos mais experientes com elas… isso é sabedoria, isso é crescer, isso é estar vivo. E cheio de força. (Ainda que tudo seja só “palavras, palavras, palavras”…)
3 comentários:
Conheco varios jovens "velhos" e acho uma autentica perda de juventude!...
bjnhs
Esta reflexão arrancou-me um sorriso, mas daqueles sorrisos nervosos, dos sorrisos que servem para o exorcismo do medo - ou da culpa. A verdade é que no ano passado era um velho rabungento: sentia-me inacreditavelmente velho, velho daqueles que, como tu dizes, tomam dez medicamentes por dia, fazem uma festa aos netos e morrem de solidão. E parecia-me que ia ficar preso naquilo para sempre, eu, aquele que sonhava com o Maio de 68, aquele que dizia que era necessário que a juventude voltasse a mostrar as suas garras e as suas guerras, e que o futuro ia ser nossa, sim, mas o presente já o era também! Calculo que, se me tivesses conhecido nessa altura, provavelmente tinhas-me corrido à bengalada com a bengala invisível que eu usava.
Agora, pronto, já só me sinto como que na casa dos 30: por este caminho, pode ser que no final do semestre acerte com a minha idade e que, quem sabe, no Natal nasça também eu com o Menino Jesus.
Acho que a universidade faz muito mal a toda a gente e a pré-universidade (o 12º ano) idem aspas: quebramos os sonhos ali, esparrelamo-nos, esponjamo-nos. Pela primeira vez entendemos que, se calhar, não vamos ser exactamente vocalistas de uma banda de rock ou actrizes de teatro. Raios, está na altura de resgatar esses sonhos! Está no tempo de reacreditarmos! Não podemos ser Carlos da Maia e seu amigo João da Ega eternamente: um par abraçado de falhados da vida, de vencidos da vida.
Tens razão, Rita: somos demasiado jovens para nos andarmos a desperdiçar assim - o problema é tudo aquilo que, lá fora, nos conduz a que nos desperdicemos assim: e não é fácil a libertação das correntes.
Silvia, concordo plenamente contigo.
Mas também percebo o velhote do João, que começou a vida aos 90 e agora vai em contagem decrescente!
O mais estranho é que este texto também se aplica a mim em algumas alturas. Às vezes, sinto-me estupidamente novinha, leve, enfim. Outras sinto-me completamente cansada, velha e cansada, incapaz de agir, presa a uma apatia horrivel. Bem, tem um pouco a ver com a eterna questão do "ser ou não ser..."
Mas acredito plenamente na força da juventude, isso sim. Nem poderia ser de outra maneira, se não de que vale ser jovem?
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