- Parece que ninguém é capaz de o insultar, por mais que diga.
Elishama ponderou naquelas palavras.
- Pois não - disse ele. - Ninguém. E por que havia eu de me deixar insultar?
- E se eu lhe dissesse - replicou ela - para sair de minha casa, você saía?
- Sim, saía - disse ele. - A casa é sua. Mas depois de eu ter saído a senhora havia de ficar aí sentada a pensar naquilo que a levou a pôr-me fora. É quando as pessoas ouvem alguém dizer-lhes os seus próprios pensamentos que se sentem insultadas. Mas por que não serão os próprios pensamentos dignos de ser repetidos por alguém?
Karen Blixen, "Uma história imortal"
Será porque saídos da boca dos outros nos surgem como uma confirmação daquilo que de menos bom pensamos de nós mesmos?
3 comentários:
acho que nao percebi nem o texto e muito menos o que quizeste dizer....
RC
Talvez este excerto não faça muito sentido fora do contexto do conto e talvez por isso não te tenha dito nada.
O que eu achei mais engraçado foi a parte em que se diz "É quando as pessoas ouvem alguém dizer-lhes os seus próprios pensamentos que se sentem insultadas." Achei engraçado porque reparo muitas vezes que é verdade. Geralmente, sentimo-nos insultados não quando alguém diz um qualquer insulto banal e brejeiro (embora nos sintamos irritados), mas sim quando alguém nos diz qualquer coisa acerca de nós que nós próprios pensamos. E assim acontece porque dito pelos outros agrava e confirma essa ideia negativa que temos acerca de nós próprios. É como se dizendo os outros aquilo que nós pensamos se tornasse ainda mais verdade na nossa cabeça. E, por isso, sentimo-nos insultados, porque tocados num ponto sensível.
Não sei se me expliquei bem... nem se foi isto que a escritora quis dizer quando escreveu a história. Mas eu interpretei assim e foi isto que quis deixar aqui. Espero que agora tenha feito mais sentido para ti. :)
À tua pergunta penso que, encostado à parede pela sinceridade do texto, sou forçado a responder:
sim.
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