Esta coisa dos blogs tem muito que se lhe diga. Para mim, nunca foi uma obrigação e sempre me deu prazer. Também nunca foi um dever. Só que começou a ser uma coisa agradável que temos de fazer mas que a partir do momento em que deixa de ser algo que nos apetece fazer para passar a ser algo que temos de fazer se torna chata e difícil. Deixei de saber o que queria escrever aqui, portanto, e deixei de te tempo e deixei de ter vontade e deixei, pela parte que me toca, o blog adormecer. Sinto saudades. Podemos ter saudades de algo que é meramente virtual?
O que é isto da blogosfera afinal? Onde estão as pessoas de carne e osso, aquelas que abraçamos, a quem nos abraçamos e deixamos que nos abracem? Onde estão os risos sonoros, as piadas sem piada nenhuma mas que ditas por nós, entre nós, no universo que reconstruímos só para nós para que tudo faça sentido, têm toda a piada do mundo? Onde estão os choros pela dor que nos corrói? Onde estão as palavras ditas, sussurradas a meio tom ao ouvido de quem se ama? Onde estão as pessoas, onde estão?
A blogosfera é magnífica, maravilhosa. Podemos falar com quem está longe, podemos partilhar coisas que de outra maneira era difícil de partilhar – pôr um texto aqui é bem mais simples do que mandar cinquenta cartas, alem de que é infinitamente mais barato. É realmente poderoso o acesso à informação, com tudo o que isso implica. Mas não deixa de ser… agridoce.
Já dizia o professor, tantas vezes exaltado aqui neste blog, o excelentíssimo utilizador do advérbio de modo, que é impossível aos homens estar em tudo com todos os aspectos da sua personalidade, porque isso seria insustentável. Dizia também que nenhum homem é capaz de assumir plenamente a responsabilidade, por mais responsável que se proclame. Curiosamente, foi só isto que me ficou de Introdução ao Direito. E ainda mais curiosamente, lembrei-me disto agora a propósito da blogosfera. Na blogosfera é impossível sermos pessoas por inteiro. Somos só palavras, imagens, nomes. Mas não somos de carne e osso.
Talvez por isso me tenha remetido ao silêncio tanto tempo… Hum… ser ou não ser?
É isso a questão.
1 comentário:
Estranho texto. Uma espécie de declaração de saudades envolta em desculpa filosófica pelo silêncio. Mas, no meio do labirinto das palavras, habitam importantes ideias. O blogue, sim, não deve ser uma obrigação. Porém, a partir do momento que ele é público, não se torna, ainda que inconscientemente, para nós, autores de blogues, uma obrigação não deixar os leitores abandonados, separados de nós? Não estou a justificar o sentimento: apenas a constatar como medra naturalmente. Eu próprio confesso que tenho de lutar muito contra esse sentimento. Um árbitro, porém, decide as coisas por mim, no meu caso: o tempo.
E sim, podemos ter saudades do que é virtual. Na realidade, é muito discutível o conceito de virtual, pois tudo o que desiganamos de virtual acontece e existe no mundo real. Um blogue não reside no éter (essa substância mítica), num plano extraterreno ou paralelo, mas partilha a realidade connosco. O adjectivo "virtual" é mais cómodo do que propriamente verdadeiro. Os blogues, especialmente um como este, não são mais do que versões públicas e reinventadas d' "O Livro do Desassossego" do Soares-Pessoa. E eu julgo que é bom ter saudades de coisas assim: de as ler - e de as escrever.
E a falta de pessoas reais? Bem, esse mal já vem dos livros - o próprio Platão queixava-se já disso. Mas, ainda assim, são as pessoas reais que se escondem por detrás dos seus nicknames e avatares, no exercício da sua timidez. Não são imagens, são pessoas. E o riso e o choro - que sejam as palavras a rir e a chorar.
Desculpa ter escrito quase o anticristo do teu texto, o seu oposto e antónimo. Percebi-te e entendo-te: não soube foi exprimir esse meu entendimento de ti.
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