sábado, abril 14, 2007

A ilha do teu corpo

O teu corpo é uma ilha comprida
Na exacta medida do meu desejo.
Sábios astrolábios para um beijo,
Secretas coordenadas da loucura,
Teus lábios prendem um trevo
Erguido e toda a tua figura 
É a postura de um deus grego.

Na ponta da ilha do teu corpo
Rebentam ondas de cabelo escuro,
Agreste, rebelde, viril e maduro.
Vagas de fogo eternamente posto,
Densa floresta em dança louca,
Prolonga-se pelo teu rosto
Emoldurando a tua boca.

No porto da ilha do teu corpo
Teus olhos refulgem cintilantes,
Tesouros misteriosos, diamantes.
Teu queixo é o cais, moreno discreto,
Teus ombros fortificações maduras;
A penugem áspera do pescoço erecto
Donde se soltam, loucas, as doçuras.

Toda a ilha do teu corpo é um mundo
Onde é extensa a planície de quimeras.
Vastos são os braços com que enlaças
Em ti as minhas doces primaveras.
E aí mais no fundo não disfarças
O teu ceptro maduro, androceu:
O teu corpo é uma ilha
E tudo o que és é meu.

2 comentários:

Anónimo disse...

muito bom, rita! mesmo! :)
love you!

Príncipe Myshkin disse...

Eu já tinha deixado escapar antes que isto era muito bom, e, agora que releio, revejo a qualidade superior do poema: tiro três vezes o meu chapéu e fico com ele na mão. Que belo poema de amor!
Logo aquele começo: "comprida
Na exacta medida do meu desejo." (ah!, deixa-me repetir para mim estas palavras, sussurando-as). E a sonoridade que perpassa a obra? "No porto da ilha do teu corpo" - este verso é fascinantes, com aquele "porto" a chamar o "corpo", a sucessão cadenciada pelos "de"s, as três imagens poderosas, seguidas: este verso é um búzio de poesia, na medida em que repete, se o chegarmos ao ouvido, infinitamente a melodia do poema. As imagens amenas que vais convocando vão preenchendo o poema de um tom que preenche quem o lê: é o sentimento completo, o ali descrito. E depois, o final "E tudo o que és, é meu".
Parabéns, Rita. Excepcional.