Um dia, Quando eu morrer, Alguém dirá que morri. E verá nascer o sol Como sempre até aí. Flores Cairão sobre a campa; Meus amigos, dores a rodos! Estarei nesse caixão Na memória de todos! Morte, Que pretendes afinal? Se o luto assim causado Cai invariavelmente Em transitório passado! O Tempo Estancará qualquer perda E das lágrimas o sal Terá caído. O Amor Voltará ao animal... Jamais Se erguerá voz poética Sobre a trivialidade Dos dias. A voz comum É a que chora a saudade… Um dia, Quando eu morrer, Cessará a solidão E tudo o que existi Deixará de ser em vão. E sempre, Numa praia qualquer, Beijará o mar a areia Para assim eternamente Ser o mundo plateia.
quarta-feira, novembro 29, 2006
E depois da minha morte
quinta-feira, novembro 23, 2006
Tapete voador
O autocarro ia cheio e ele ficou colado ao vidro da frente. Lá fora chuviscava um fim-de-tarde de Inverno com cheiro a castanhas. Cá dentro cheirava a cansaço de fim de dia, uma espécie de suor abafado de rotina cumprida, e não se ouvia absolutamente nada. Agarrado à barra das senhas, juntinho ao vidro, olhava de frente a estrada que se abria para ele. E então abstraiu-se de tudo: do autocarro, das pessoas, do tempo, da cidade e do caminho que tão bem conhecia. Só existia ele e, um pouco mais difuso, o condutor do autocarro, que o observava pelo canto do olho numa sintonia cúmplice de quem já fez algo parecido. Ou pelo menos assim imaginava ele, sentindo nessa cumplicidade um estímulo para não quebrar a saborosa viagem. Colado ao vidro da frente e olhando de frente a estrada, ele flutuava num tapete mágico, deixando-se balançar gostosamente ao ritmo desse voo…
O seu sorriso desvaneceu-se apenas quando percebeu que o autocarro estava então quase vazio e já não era preciso ir colado à janela, esmagado entre anónimas formigas ansiosas por regressar ao formigueiro. Sem vergonha e com prazer, flutuou até um dos lugares livres e ficou lá a olhar a janela. Talvez tenham pensado que se sentou mais uma formiga cansada. Ele, porém, ainda estava lá à frente, e a voar olhando o mundo nos olhos, livre, inteiro, dançando sempre ao doce balançar desse tapete mágico…
segunda-feira, novembro 20, 2006
segunda-feira, novembro 06, 2006
La place des grands hommes
Eles, Dez anos depois, No mesmo local sagrado Dos dias da juventude, No mesmo silêncio quebrado, Colam retalhos da amizade. (Que fizeram do tempo que passou?) Eles, Dez anos depois, No mesmo grupo ousado Que descobriu a plenitude, Mas sem o modo apaixonado De viver a liberdade. (Que fizeram do tempo que secou?) Eles, Dez anos depois, E um magnífico modo afectado De medir sucessos das vidas. Eles, Dez anos depois, Couraçados no rumo traçado E amargos de esperanças tidas. (Que fazer do tempo em que se não viveu?) Dez anos depois, Eles, Ele e Ela, Sem eles, Selando sem dor, A mortalha do amor.
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