O nosso palco tem soalho de madeira que range constantemente pelos passos das pessoas que lá passam. Às vezes nem parece ser o nosso palco, porque olhamos e olhamos e olhamos em volta e só vemos caras de pessoas que já se cruzaram connosco em algum ponto da nossa curta vida. Está sempre cheio de gente, gente diferente que nos vai preenchendo recantos diferentes do que preenche uma pessoa. Imagino que estejamos lá no meio, mas a multidão que nos rodeia não deixa que a plateia nos veja na nossa individualidade.
Deslocamo-nos regularmente até aos limites do nosso palco, batendo com a cabeça no limiar da porta de entrada de cada vez que nos aventuramos de mais. A peça que representamos não tem ensaios, mas também não tem guião nem sentido nem rumo nem norte. Não há personagens definidas e a personagem principal ficou nos bastidores a chorar o medo das luzes da ribalta. Andamos às voltas pelo palco, andando, correndo, saltando, sempre com pessoas, sempre com caras, tantas quantas forem precisas para não nos lembrarmos de nós. Já esquecemos o barulho do silêncio porque o nosso palco nunca está vazio e o soalho nunca pára de ranger. Não sabemos o que é estar parado porque nunca nos damos espaço para estar sem as pessoas. Acho que temos medo de que não gostem de nós ou de que não sejamos importantes.
Não sei ao certo se a cortina está fechada se aberta. Talvez esteja aparentemente aberta e talvez as pessoas circulem pelo nosso palco livremente, ou talvez na verdade esteja tão fechada que não é no meio do palco que elas andam mas sim à boca de cena.
Olhamos e olhamos e olhamos e não nos vemos. Estaremos mesmo cá? Faremos parte do nosso próprio palco? Ou seremos como o actor principal com medo da ribalta?
Não sabemos. Às vezes é tudo muito confuso, como se as nossas cabeças ficassem cheias de um barulho mental impossível de aturar. Outras vezes até nos sentimos bem, como se estivéssemos no topo de uma montanha e tudo nos fosse possível.
Temos uma necessidade incontrolável de conversar. É por isso que gostamos de ter longas conversas com os amigos. É uma maneira de nos libertarmos de algumas angústias e também de esquecermos por momentos o barulho do nosso pensamento.
Mas no fundo estamos só a conhecer o nosso palco, este palco que pisamos, e a aproveitar a vida enquanto não crescemos e ficamos sérios de mais. Vivemos o momento e às vezes pensamos no futuro. Mas não muito, porque somos jovens e porque temos toda a vida à nossa frente.
2 comentários:
Hummmmmmm...gostei.
tb gostei.
beijinhos
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