quinta-feira, junho 08, 2006

E até eu me senti desaparecer

Estávamos sentadas na mesma mesa, uma mesa enorme, na sala de estudo para mestrandos e doutorandos das zoologias. Eu olhava para o meu calhamaço de constitucional, mas os meus pensamentos estavam longe. Chegou com algum alarido e começou a espalhar o material de estudo pela mesa. Mecanicamente, puxei as minhas coisas mais para perto de mim, não num súbito ataque de possessividade, mas por estar a ocupar quase metade daquela mesa enorme. "Deixa estar, não é preciso". E eu sorri.
Voltei a olhar para o calhamaço e apercebi-me do frio que estava naquela sala. Um calor insuportável lá fora e eu ali a sentir frio! Vira-se para mim de repente e pergunta-me: "Estás a guardar lugar para alguém?" Eu sorrio simpaticamente um sorriso meio forçado e digo que não.
Percebi que ela estava ansiosa. Decerto à espera de alguém. De um rapaz.
Viro a página do meu calhamaço, a saborear aquela ansiedade que ela sentia. É boa. É um nó no estômago que nos obriga a olhar para a porta ao mínimo ruído. E aquela pontinha de desilusão de cada vez que ela se fecha e não é ele...
Ela estava à espera Dele. Olhava para o relógio de cinco em cinco segundos e trocava mensagens pelo telemóvel. Depois olhava para os cadernos, escrevia umas frases e voltava a olhar para o relógio. Ela estava ansiosa. E até eu começava a sentir aquela ansiedade! Não havia maneira de me concentrar naquele calhamaço...
Ela estava à espera Dele.
Ele chegou. Era louro, lindo, com uns olhos azuis. Apenas olhei de relance, tal como apenas sentira a ansiedade de relance. Ele não me dizia respeito. Nem ela. Eles são dois e estavam visivelmente apaixonados. Mal ele entrou na sala, a ansiedade dela deu lugar a uma euforia magnífica! Eles eram dois, juntos, amados... tão lindos!
E até eu me senti desaparecer.

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