quinta-feira, abril 13, 2006

Praxividências...

Acordei hoje com vontade de deixar bem claro num post a minha "praxividência". Vidência porque não consigo ainda tomar uma posição face a este assunto que despoleta sempre uma diversidade de sentimentos e emoções de revolta, de alegria, de desilusão, de euforia, de náusea, de excitação, de dó. Tomar uma posição significaria assumi-la em pleno e não me identificar com a outra posição que abandonei. Até porque nesta questão da praxe só há três atitudes a ter: aderir, declarar-se anti-praxe e ser indiferente. A indiferença reserva-se apenas aos que já não são caloirinhos e se podem dar ao luxo de não serem constantemente praxados e, por isso, por mais que queira que a praxe ma passe ao lado (e nem o quero assim tanto) ela viria ter comigo (ela anda aí!... =). O declarar-me anti-praxe obrigar-me-ia a recusar toda a verdadeira praxe de Coimbra ( a tradição, o traje, a queima, tudo aquilo que eu acho mágico nesta cidade e que é o verdadeiro factor de atracção de estudantes à universidade) além de que limitar-me-ia a deixar nas mão de outros o problema, aquilo que eu tanto critico. A adesão é, sem dúvida, a posição mais fácil, como é tudo na vida. O "ir na onda", "ir com a carneirada", "fazer como os outros", "fazer porque sim",... o que não faz de todo o meu género e que acaba por não ser verdadeiramente uma tomada de posição. É simplesmente não pensar nisso e ir com os outros.

Claro que estas são as posições que se podem tomar vistas de uma maneira objectiva. Porque cada um tem a sua posição ou reacção à praxe. Por mim falo. Fui obrigada a aderir à praxe 2 ou 3 vezes. As primeiras duas, embora tivessem sido provavelmente as tardes mais secantes da minha vida, foram na primeira semana de aulas na faculdade. Ia preparada para isso, com algum espírito para tentar ver o lado positivo da coisa, mas a praxe resumiu-se a andarmos de um lado para o outro, a cantar músicas mesmo ordinárias, a fazer figuras tristes no meio da rua,... e comecei a sentir na pele que a praxe não é de modo algum um modo de integração mas é uma maneira de os pseudo-doutores (sim, porque alguns dos que me praxam são meus colegas em quase todas as cadeiras.) se divertirem connosco. E a partir daí comecei a revoltar-me a sério. Principalmente quando me apercebi que a "praxe-integração" também era praticada no 2º semestre de aulas!! Fui praxada uma terceira vez na 2ª semana de aulas do 2º semestre. Já conheço muita gente na faculdade e não preciso da ajuda de uns quaisquer desconhecidos que me vão amigavelmente integrar! No segundo semestre? Que ridículo! Admito que posso ficar a conhecer caras na praxe ("Olha! Aquele é o que fez o pudim danone com aquela no meio da praça!") mas amigos só os faço se quiser, se houver vontade de partilhar, se houver vontade de conhecer o outro. Para mim a integração é ficar em paz com uma qualquer situação nova com que me envolvi... é sentir-me bem com qualquer coisa. É encontrar pontos de apoio num sítio novo. A praxe (como eu a vivi) é o elemento destabilizador, "despacificante".

Há quem diga "Dizes isso mas para o ano vamos ver quem anda a praxar!". É verdade. Para o ano tenciono praxar os caloiros. Mas não vai ser uma praxe igual à minha. Uma praxe de desintegração. Os jogos que fiz na minha praxe puxaram somente para o individual. Para o cantar canções e andar em fila indiana. Como é que é suposto eu conhecer pessoas se só vejo o rabo de uma e ouço a voz de outra atrás? Há tantos jogos que podem verdadeiramente aproximar as pessoas. Jogos inteligentes e com piada. Que se costumam fazer em campos de férias, por exemplo, para que as pessoas quebrem as barreiras do desconhecimento. Não apoio a ideia de que podem sair dali os maiores amigos do mundo. Mas a praxe bem feita pode dar um empurrãozinho verdadeiramente amigo e não egoísta e para auto-satisfazer o meu egozinho. Sei que há, de facto, amizades que nasceram em praxes. Mas a praxe tem de proporcionar isso!

Por isso é que uma verdadeira praxe não nos revolta e até nos ajuda a ver as coisas de outro modo. Até nos conseguimos divertir. Por isso é que não me quero desprender, declarar-me anti, e deixar os caloiros nas mãos de pessoas que estão a acumular as praxes deste ano e as tencionam despejar em cima do próximo caloiro. Prefiro pôr eu as mãos à obra, tentar mudar as coisas por dentro e não ficar-me pelo "lambe-botas" aos doutores, pela crítica e o mal-dizer, tornando-me completamente improdutiva. São estas as nossas pequenas missões que temos de agarrar. Há, de facto, muito para fazer no mundo. E são estes desafios que nos incomodam, desacomodam, nos abrem os olhos e nos picam o rabo dizendo "está nas tuas mãos".

2 comentários:

rita disse...

Gostei imenso do teu texto. Conseguiste exprimir racionalmente aquilo que só emocionalmente me saiu do corpo. Concordo absolutamente com essa tua "praxividência". :)

Anónimo disse...

Então pronto; vamos buscar os tijolos, a argamassa e -sim!-,mãos à obra :)

Mariana