terça-feira, novembro 01, 2005

Alice

Sinopse: Passaram 193 dias desde que Alice foi vista pela última vez. Todos os dias Mário, o seu pai, sai de casa e repete o mesmo percurso que fez no dia em que Alice desapareceu. A obsessão de a encontrar leva-o a instalar uma série de câmaras de vídeo que registam o movimento das ruas. No meio de todos aqueles rostos, daquela multidão anónima, Mário procura uma pista, uma ajuda, um sinal... A dor brutal causada pela ausência de Alice transformou Mário numa pessoa diferente mas essa procura obstinada e trágica, é talvez a única forma que ele tem para continuar a acreditar que um dia Alice vai aparecer.

Nota de intenções: Interessava-me na história de “Alice” explorar sobretudo a obsessão. Alguém que perde uma filha e que, sentido-se impotente para agir, cria um sistema paralelo de funcionamento, exterior à sociedade em que vive. Quando, à noite de regresso a casa, vemos os vídeos de Mário e toda aquela multidão anónima, em movimento continuo, já não sabemos se aquelas imagens são reais se apenas existem na cabeça de Mário.Um rosto igual a outro rosto, uma rua igual a outra rua, um dia igual a outro dia. A cidade como local de abstracção onde, alguém como Mário, pode estar profundamente isolado. Na procura de Alice, Mário conhece outras personagens, também elas, de alguma forma, sozinhas também elas isoladas na cidade onde vivem.“Alice” é sobretudo um filme sobre a ausência. Uma história de amor de um pai por uma filha.
Marco Martins

Alice. É, para mim, um filme estranho. E não é por ser português, não é por não ter um enredo com acção intensa e tiros e grandes reviravoltas. Não. É simplesmente um filme estranho, um filme deprimente, parado e angustiante. Não lhe achei enredo convincente (para além do óbvio - o desaparecimento de Alice e a busca obsessiva do seu pai), nem força interpretativa do actor principal, cuja personagem parecia de papel, embora todos os silêncios prolongados, todos os diálogos curtos e intensos tivessem uma força expressiva arrepiante. O ritmo lento (lentíssimo), embora cansativo, pareceu-me o ritmo adequado ao tema, bem como a repetição de espaços, personagens e ambientes sórdidos. Pelo menos exalta o valor da esperança e revela a dificuldade de a manter com a passagem do tempo... Do que gostei mesmo mais foi a música, que achei brilhante, sobretudo pela simplicidade do tema principal, recorrentemente ouvido, e que ficou a ressoar nas nossas cabeças bem para lá dos créditos finais.

Não aconselho nem desaconselho (quem sou eu para o fazer?). Apenas deixo aqui o meu testemunho, juntamente com a esperança que deposito no cinema português de que um dia, se é que não o começa a fazer já, traga a qualidade de representação e a universalidade de temas que sei existir em Portugal para as salas de cinema. E que, nessa altura, espectadores orgulhosos e apaixonados encham as salas nacionais gritando: "Viva o cinema português!"

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