O tempo passou mas nós ficámos congelados no momento em que fomos um grupo. Somos outros (estamos mais velhos), mas permanecemos iguais na maneira como estamos uns com os outros. As nossas mudanças, invisíveis para três dias, não mudaram as nossas brincadeiras. Não mudaram as nossas paranóias. Não mudaram o nosso amor pelo teatro, os nossos fantasmas, as nossas palermices. Os nossos vícios e dependências. As nossas limitações, os nossos silêncios, as nossas danças malucas, as nossas vozes, as nossas tensões, os nossos medos. A nossa pancada por fotografias loucas. As nossas mudanças não mudaram isto que sentimos os quatro, isto que nos une aos quatro como irmãos de sangue (da arte que nos corre nas veias) que podemos finalmente ser. Os laços permaneceram intactos e a sensação é estranha. O tempo mudou, mudou-nos, separou-nos, e afinal ainda estamos unidos, ainda estamos ligados.
Seremos velhinhos, casados, solteiros, com filhos, viúvos, sozinhos e sentiremos nós o mesmo uns pelos outros? Irmãos, eternamente irmãos, continuaremos a encontrar-nos pelos quatro cantos do mundo e sentiremos sempre que o tempo não passou por nós enquanto grupo como passou por nós enquanto indivíduos?
O tempo mudou, mudou-nos.
O tempo, afinal, amigos, mudou tudo – mas não mudou nada.
1 comentário:
"É preciso que tudo mude, para que tudo fique na mesma.", Giuseppe T. di Lampedusa.
Quando li este teu pequeno texto, não pude deixar de me lembrar desta famosa frase d' "O Leopardo" (mesmo se ela é pronunciada num contexto radicalmente diferente).
É um post com uma beleza que gostava de poder experimentar eu mesmo: infelizmente, cada vez sinto mais o tempo e o seu peso - nas relações como em tudo o mais na vida. Talvez prefira somente culpar o tempo na minha timidez de acusar os verdadeiros criminosos. É mais fácil - e mais mentiroso.
À peneira do tempo alguns, porém, resistem. Juntos, lá vamos crescendo. Não sei se o tempo nos mudou: sei que nos mudámos uns aos outros.
P.S.: gostei muito do título: fez-me sonhar com mil filmes e estórias de ficção científica, que brincam precisamente com o conceito de "cápsula do tempo". É uma metáfora muito bem apanhada, original!
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