domingo, janeiro 13, 2008

Reflexões sobre insatisfação, exigência e Amor

"A tua exigência sem amor, revolta-me. O teu amor sem exigência, humilha-me. O teu amor exigente dignifica-me." Henri Caffarel

(É mesmo isto. Quis dizer-te esta frase mas não me lembrei das palavras exactas e resolvi esperar até as saber.)

Não sei Amar sem exigência. Não consigo conceber o Amor sem a Exigência. Acho que só quem sabe exigir é que Ama. Estas não são realidades que, juntas, se tornam mutuamente perfeitas... ou melhor, a exigência não é o único componente do Amor e o Amor não se extingue na Exigência. No Amor cabe muito, cabe tanto, cabe tudo. Mas sei, acredito, que um Amor sem exigência não é Amor. O Amor é querer mais. O Amor é o oposto da estagnação. E a exigência é o motor que provoca o andamento, é o constante empurrão que gera o dinamismo. É por eu querer saber mais sobre mim que me mexo, que escavo, que aprofundo, que vou mais dentro, que toco feridas, que dou passos dolorosos... para depois me aceitar e seguir em frente, mais feliz. Quero saber mais de mim, conhecer-me melhor, porque não estou satisfeita. Não estou satisfeita porque sei que posso dar e ser mais. Se sei que posso dar e ser mais e quero dar e ser mais, sou mais exigente comigo. A insatisfação é consequência directa da exigência. E a exigência é consequência directa da insatisfação. "O homem é um eterno insatisfeito"... já não sei se é "frase feita" ou se foi dito por algum brilhante filósofo, mas há lá frase mais certa do que esta? Seja para o lado menos humano do Homem, seja para o seu lado mais seu, a insatisfação é que puxa os cordelinhos. Porque quer mais dinheiro? Porque o que o tem não o satisfaz. Porque dá do seu tempo para o gastar nos outros? Porque viver para si e dentro de si só não o satisfaz. O Homem é um ser aberto, incompleto, que procura sempre mais, por natureza. E é por assim ser que evolui. É por assim ser que há dinamismo na história da Humanidade. É, também, por assim ser que o Amor sobrevive. Porque nesta insatisfação humana, não pode caber apenas a insatisfação pessoal. Rapidamente o Homem perderia de vista aquele que é o âmago da sua existência - o outro. A insatisfação do Homem abarca o outro. Abarca tudo aquilo que ele Ama. E se a insatisfação é condição da exigência, também é pressuposto do amor. O amor é querer mais. É aceitar aquela pessoa por tudo o que ela é hoje mas saber que depois do hoje há o amanhã e que amanhã ela poderá ser mais. Mais ela própria. Mais encontrada consigo mesma e portanto conseguindo também ser mais para os outros. Encontrar-se nos outros. Ser mais para a família, os amigos, os desconhecidos. Mais para o mundo. Amar é querer mais. É querer mais de mim e mais dos outros. Por isso digo que não sei amar sem exigência. E claro que também não posso exigir sem ser por amor. Porque "a tua exigência sem amor, revolta-me". A exigência sem amor é oca. É falsa. É hipócrita. É incoerente. É estéril. Conduz apenas à revolta e à quebra de laços.

A meu ver, é por o Homem estar, cada vez mais, a perder a capacidade de exigir, que também cada vez mais frequentemente estabelece relações superficiais, que ficam pela rama da pessoa, pela parte agradável, e com a qual é fácil de conviver, do outro. É por o Homem não ter coragem para exigir que não consegue tantas vezes amar verdadeiramente.. e por isso proliferam as rupturas de relações, por exemplo. Porque enquanto a relação se aguenta naquele mútuo entendimento do "toma-lá-dá-cá", naquela facilidade do "tens de gostar de mim como eu sou porque eu sou assim e pronto", naquele conforto do "se eu não te chatear tu também não me chateias", a convivência é fácil, serena, sempre divertida e sem problemas. Cedo, porém, começam as discussões "porque eu te dou e tu não me dás nada", "porque a relação caiu no tédio, ja que não há nada de novo a descobrir em ti"... porque não há crescimento em conjunto sem interacção ou exigência com o outro. Não há crescimento se só houver a mera aceitação. Na mera aceitação falta o empenho, o investimento, a preocupação, o deixar que o outro me ajude a crescer e ajudá-lo a crescer também... falta a exigência. A mera aceitação, a satisfação com a mera aceitação, traça um caminho entre dois, lado a lado, tolerante, mas não uno... acho que não chega sequer a ser um caminho. É um encontro sem pernas nem caminho para andar.

Para crescermos, temos de interiorizar que não nos bastamos a nós próprios. Precisamos dos outros, que estão fora do quadro a olhar para a pintura e conseguem perceber muito mais facilmente e com mais clareza quais são as áreas que temos de trabalhar, colorir mais ou menos, dar uns retoques, preencher ou deixar em branco. O eu precisa que o tu interaja. Sempre. Precisa de um tu que ame o eu como ele é, com todos os defeitos que ele tenha, mas que queira mais, que queira que ele seja feliz e que não desista no caminho para ser melhor... e que como tal não tenha medo de exigir.

Por isto é que o amor é difícil... mas, sem dúvida, gratificante.

"Não me peçam para ser menos exigente. É o mesmo que me pedirem para não vos amar."
O que aprendi? ... que tenho de
dar sempre a entender aos eus que este tu exige porque ama
e não o faz por egoísmo ou por querer destruir o eu.
E que é tão exigente com os eus como é consigo mesmo.

1 comentário:

Anónimo disse...

fazes-me sempre pensar caloira...bjinhos com mimos daqueles que tu pedes mas que devias exigir...