Sento-me, cansado. Muito cansado mas feliz, cansadamente. Cheguei ao fim. Que orgulho. Cheguei ao fim. Já nem consigo sentir a expressão da minha alegria talvez porque as rugas da minha cara já não a desenham. Perdi-a algures na minha viagem. No fim, penso eu. A cortina de traços que me vincam a pele do rosto, endureceram-me a fisionomia. E estes olhos também não ajudam. Sempre a lacrimejar, sem eu saber sequer porquê. Quer dizer, eu nem sei bem se assim é... já não me olho ao espelho há tanto tempo. O meu espelho foram sempre as pessoas com quem me cruzei na minha viagem. Que ou se aproximavam, ou se afastavam. Ou me sorriam ou tinham pena de mim. Ou me viam como uma fonte de energia ou como uma fonte seca, a estalar de velhice e a precisar que lhe dessem lugar no autocarro. Deixei que o olhar me fugisse para fora e repousasse na minha mochila. "O que levas na mochila tu?", perguntou-me uma criança uma vez, pendurada nas grades da escola da sua aldeia, desrespeitando por traquinice a regra das conversas com estranhos. Na altura respondi "roupas sujas e latas. Canivete. Umas botas sobresselentes. 8 mapas. Uma toalha e um fato de banho. Umas coisas de toilette. Uma panela. Um camping gaz. Uma lanterna, pilhas, fósforos. Um cantil. Uma guitarra... " "Xiii porque é que tens tanta coisa? Onde vais?". Silêncio. Silêncio. Silêncio. "Não sei". "pffff!" A boca dela rasgou-se num torto sorriso branco e a bata amarela virou-me as costas. Pela primeira vez, lembro-me, senti o peso da minha mochila tão pesada mas tão cheia de um denso vazio.
to be continued...
Sem comentários:
Enviar um comentário